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IGREJA DE DEUS

Movimento Bíblico Congregacional

015.1 - As sete taças da Ira de Deus - Capítulo 16

1 - E ouvi, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide, e derramaisobre a terra as sete taças da ira de Deus.

2 - E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.

3 - E o segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente.

4 - E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue.

5 - E ouvi o anjo das águas, que dizia: Justo és tu, ó Senhor, que és, e que eras, e hás de ser, porque julgaste estas coisas.

6 - Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores.

7 - E ouvi outro do altar, que dizia: Na verdade, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.


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O FEUDALISMO: QUANDO OS HOMENS NÃO TINHAM TERRAS PARA PLANTAR

O feudalismo foi o sistema social que predominou durante a Idade Média na Europa. As raízes do sistema feudal remontam aos dias do declínio do Império Romano, mas ele foi estabelecido definitivamente após a morte de Carlos Magno. O feudalismo foi um fenômeno político, econômico e social que ganhou forças devido a o enfraquecimento do poder político dos reis. Estes entregavam as terras aos senhores feudais em troca de fidelidade e alguns serviços de honrarias. Os feudos eram grandes propriedades rurais cuja extensão mínima era de 1.200.000 m2. Cada feudo possuía um castelo fortificado, ou burgo, uma aldeia, onde moravam os servos, e ainda a Igreja, o celeiro, o açude, o forno, as pastagens comuns, o mercado, onde se faziam trocas semanais, e a cavalaria, que era uma de suas principais instituições. Todo esse conglomerado de coisas tinha um responsável, o senhor feudal.

Esse era o ambiente sócio-econômico europeu entre os séculos XII e XIII, quando se deu o início do processo de decadência do feudalismo. A decadência desse sistema foi a consequência direta da ação do primeiro anjo de Apocalipse 16. O primeiro soar da trombeta. A decadência do sistema feudal Então foi o primeiro e derramou a sua taça sobre a terra; e apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem. Apocalipse 16:2 Essa é a narrativa de mais um flagelo sobre os homens. A besta significa um império, uma nação, um reino; neste caso, o Santo Império Romano, que era a perpetuidade do Antigo Império Romano. O fim do feudalismo foi representado por essa profecia. Esse foi o tempo em que os homens não tinham terras para plantar. 84. Daniel 7:1-8, 17-23

Daniel 7:1-8
1 - No primeiro ano de Belsazar, rei de babilônia, teve Daniel um sonho e visões da sua cabeça quando estava na sua cama; escreveu logo o sonho, e relatou a suma das coisas.
2 - Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar grande.
3 - E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar.
4 - O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem.
5 - Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne.
6 - Depois disto, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio.
7 - Depois disto eu continuei olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.
8 - Estando eu a considerar os chifres, eis que, entre eles subiu outro chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas.

Daniel 7:17-23
17 - Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra.
18 - Mas os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre, e de eternidade em eternidade.
19 - Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro e as suas unhas de bronze; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava;
20 - E também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros.
21 - Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e prevaleceu contra eles.
22 - Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.
23 - Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços.

O anjo derramou a sua taça sobre a terra. Significa que esse acontecimento teria lugar na terra, ou seja, no Santo Império Romano. Esse Império sofreu as consequências do derramar da primeira taça dos juízos de Deus, que fez aparecer uma chaga ruim e maligna nos homens que tinham o sinal da besta. A chaga que apareceu nos homens romanos foi uma "doença" política e econômica. Na Bíblia, a palavra chaga tem essa conotação. Ela fala com chagas quando perde sua influência sobre as regiões que antes dominara. O profeta Jeremias se refere à Jerusalém como uma cidade cheia de chagas, que ninguém mais a procurava. Se biblicamente a chaga pode ser entendida como uma "doença" social, econômica e política, então, com o derramar da primeira taça tem-se um acontecimento com esse caráter em terras europeias. Essa foi a decadência do feudalismo.

Uma definição literal pode ser elaborada nas seguintes palavras: a primeira taça do Apocalipse representa a desestruturação política, social e econômica da Europa a partir do século XII, entendida historicamente como a transição do feudalismo para o capitalismo. Os juízos divinos da primeira taça propiciaram uma desestabilização na Europa. Foi uma chaga ruim e maligna nos homens do século décimo segundo em diante. Eles sofreram com a decadência de um sistema incapaz de atender às suas necessidades básicas, como alimentos Jeremias 30:17. e terras para plantar e habitar. Essa decadência causou grandes problemas aos homens que tinham o sinal da besta e adoravam sua imagem.

Jeremias 30:17 Porque te restaurarei a saúde, e te curarei as tuas chagas, diz o Senhor; porquanto te chamaram a repudiada, dizendo: É Sião, já ninguém pergunta por ela.

Os senhores feudais e as Cruzadas

Devido às necessidades sócio-econômicas, os senhores feudais não hesitavam em cumprir as convocações da Igreja. As Cruzadas contribuíram, segundo os autores clássicos, para a decadência do feudalismo. No Concílio de Clermont (fins de 1095), o Papa Urbano II exortou os nobres da França a pegarem em armas e partirem para a conquista da Terra Santa; disse, entre outras coisas: "Já que a terra que vós habitais, fechada de todos os lados pelo mar e circundada pelos picos das montanhas, é demasiadamente pequena para a vossa grande população, sua riqueza também não é abundante, ela fornece apenas o alimento suficiente para seus cultivadores... Entrai pelo caminho do Santo Sepulcro; arrebatei a terra da raça fraca e submeti-a a vós". Milhares de pessoas partiram, como cruzados, para a Terra Santa, tal qual os emigrantes europeus viajavam para a América. As Cruzadas eram expedições muito dispendiosas, e os senhores as faziam por sua exclusiva conta, às suas custas.


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Tinham de vender seus bens e endividar-se. Muitos senhores morreram. Os que sobreviveram voltaram empobrecidos ou arruinados. Os nobres perderam (86. Ibid., p. 269.), pois, parte do seu antigo poder. Desapareceram muitos domínios feudais na Europa; com efeito, os que fracassavam na empresa ficaram arruinados e humilhados, e isso, junto com o desaparecimento de muitos senhores nas guerras, modificou o panorama social de quase todos os reinos da Europa. As Cruzadas não tiveram resultados satisfatórios quanto a seus objetivos. Proclamadas por motivos religiosos, acabaram por ter objetivos políticos e econômicos e trouxeram mudanças radicais. Os historiadores divergem quanto aos seus resultados. A opinião tradicional acha que as Cruzadas exerceram grande influência e provocaram notáveis mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais.

Elas "contribuíram, segundo os autores clássicos, para a decadência do feudalismo". As Cruzadas não trouxeram somente péssimos resultados para a civilização ocidental, mas também alguns benefícios, como o aumento das relações comerciais e culturais com o Oriente; porém, isso só contribuiu para a queda do sistema feudal. Com o aumento do comércio, difundiu-se o uso da letra de câmbio e de crédito, o penhor mercantil, o seguro marítimo. Aperfeiçoaram-se outras operações comerciais. Abriram-se novas rotas comerciais, desenvolveu-se a navegação e, portanto, a indústria da construção naval.
(87. ARRUDA, op. cit., p. 273./ 88. Ibid., p. 274./ 89. Ibid., p. 272,273. /90. BECKER, op. cit., p. 273)

A expansão mercantil favoreceu preferentemente as cidades italianas, sobretudo Gênova e Veneza." Culturalmente, esse contato entre ambas as civilizações trouxe resultados fecundos. As civilizações bizantina e muçulmana mantinham intactos muitos aspectos do legado cultural greco-romano, já esquecidos ou ignorados no Ocidente. Através dos bizantinos e muçul- manos, difundiam-se na Europa Ocidental as obras de Aristóteles e Platão, os elementos de Euclides e muitos novos conhecimentos em astronomia, geografia, me- dicina, química e outras ciências." Todos esses fatos minaram paulatinamente o sistema feudal até sua completa extinção com a Revolução Francesa.

A desestruturação urbana e a Peste Negra Como consequência desse contato entre Oriente e Ocidente, outros fatores entram em cena e aceleram a queda do feudalismo, que são: o surgimento das cidades, o aumento do mercado consumidor e a disseminação da peste do século, a Peste Negra. Numa economia isolada como a economia feudal, as secas, as enchentes, as guerras e outros acidentes naturais provocavam sempre a morte de muitas pessoas. Mas bastou haver maior segurança para ocorrer também a redistribuição da produção, com a venda de mercadorias em muitos pontos, o que melhorou o abastecimento da população.
(91. ARRUDA, op. cit., p. 273. 92. BECKER, op. cit., p. 274.)

A primeira consequência disso foi que a população começou a crescer em ritmo acelerado; com isso, aumentou o mercado consumidor e, ao mesmo tempo, o número de pessoas disponíveis para trabalhar. Era uma verdadeira reação em cadeia, em que um elemento dinamizava o outro. Esse ritmo mais intenso do mercado consumidor entrou em choque com o modo de produção servil. Daí a crise do sistema feudal."

Tudo isso, somado à descentralização do governo, que tirava o poder dos reis de cuidarem dos interesses básicos da sociedade, provocou uma grande desorganização social no continente e facilitou a difusão da grande calamidade: a Peste Negra. De origem Oriental, o vírus dessa peste foi introduzido na Europa em 1348 e se propagou com grande rapidez. Em pouco tempo, a Peste Negra dizimou um terço da população europeia. A difusão do vírus foi facilitada por uma série de fatores. Um dos principais foi a inadequação da estrutura urbana à concentração demográfica.

Em outras palavras, as cidades daquela época não eram planejadas. A maioria surgira em antigos centros de comércio localizados perto de castelos ou outras construções fortificadas. As casas se amontoavam em desordem, o lixo era atirado na rua, o esgoto corria pelas ladeiras e se depositava junto aos muros. Somado à umidade e às condições precárias de higiene nas casas, tudo isso contribuiu para a disseminação da Peste Negra." (93. ARRUDA, op. cit., p. 376./ 94. Ibid., p. 424,425.)


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O aumento populacional, o surgimento das cidades, as Cruzadas e a integração Oriente-Ocidente abalaram a política, a economia e a cultura da sociedade europeia e trouxeram a queda do sistema feudal. Era a primeira taça do Apocalipse derramada no Santo Império Romano. Ela desencadeou uma sequência de acontecimentos que mudou o panorama social do continente. Foi um juízo de Deus que afetou os homens que tinham o sinal da besta e adoravam a sua imagem. Nesse tempo, a atenção dos homens estava voltada para todo o que acontecia em terras feudais. Suas vidas eram condicionadas por esses acontecimentos. É o cumprimento do primeiro episódio da profecia da sétima trombeta. Seu primeiro soar.

Vê-se que esse cenário feudal não era dos melhores. Não eram boas as condições em que os homens se encontravam. Viviam como se tivessem uma chaga social, pobres e miseráveis. Mas eles vão mudar de condição. A partir desse momento, um ciclo de transformações irá tomar conta da Europa. O homem quer a riqueza. Vamos, então, embarcar numa das caravelas de Colombo e nos aventurarmos "por mares nunca dantes navegados" em busca do ouro e da prata.

"A PRIMEIRA TAÇA DOS JUÍZOS DE DEUS CUMPRIU-SE COM A DECADÊNCIA DO FEUDALISMO. DERRAMADA NA TERRA, PROVOCOU O FIM DAQUELE SISTEMA SENHORIAL NÃO HAVIA TERRAS PARA A GRANDE POPULAÇÃO PLANTAR E COLHER. OS HOMENS AMONTOARAM-SE NAS PRECÁRIAS CIDADES, ENVOLVIDAS POR MUITOS MALES. PESTE E MORTE EXTERMINARAM BOA PARTE DOS HOMENS."

MERCANTILISMO: QUANDO OS HOMENS FORAM POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS

O feudalismo foi o sistema social da Europa durante a Alta Idade Média. No início da Baixa Idade Média foi substituído pelo mercantilismo. O comércio aumentou a partir das Cruzadas e caracterizou o novo período da História representado profissionalmente pela segunda taça.

O mercantilismo era o predomínio do espírito mercantilista, comercial, sistema econômico que baseava-se na subordinação total aos interesses comerciais. A teoria mercantilista surgiu como afirmação da burguesia em face à nobreza, provocada pelas novas descobertas, pelo aumento de riquezas, pela imposição de vários fatores que eram dados pelos acontecimentos e pelo encorajamento e desenvolvimento da manufatura, cujo produto passou a ser exportado e ao mesmo tempo era a principal fonte de riquezas. A criação de uma marinha mercante e de tarifas alfandegárias, que favoreciam os produtos nacionais, foram marcos decisivos na determinação do sistema econômico que passaria a dominar."5 O sistema mercantilista favoreceu principalmente as cidades marítimas de Pisa, Gênova, Veneza e, mais tarde, as nações atlânticas, Portugal e Espanha. Uma célebre frase da época, dita por Virgílio, o navegador, expressa muito bem o espírito que predominava: "Navegar é preciso, viver não é preciso". (95. ENCICLOPÉDIA Universal, v. 6, p. 2327. São Paulo: Editora Pedagógica Brasileira, 1963.)

As grandes navegações e a revolução comercial

O segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreram todos os seres viventes que estavam no mar. Apocalipse 16:3

Essa profecia diz que o segundo anjo derramou sua taça no mar. Os acontecimentos que a cumprem têm como cenário o mar. Foi para o mar que a história se voltou. O aumento do comércio, primeiro no Mediterrâneo e depois no Atlântico, caracterizou esse novo modo de vida na Europa e também marcou o tempo em que os homens foram "por mares nunca dantes navegados." A definição literal dessa profecia pode ser feita nas seguintes palavras: um fenômeno socioeconômico fortalecido pelas viagens marítimas às Índias e pelo descobrimento da América mudou a forma dos homens adquirirem riquezas.

No Mediterrâneo, antes das Cruzadas, navegavam quase que exclusivamente mercadores orientais. Isso permitiu que mais tarde as cidades meridionais, italianas e francesas desenvolvessem vastas relações comerciais. As cidades do Mediterrâneo monopolizaram as importações das Índias e conquistaram a hegemonia comercial sobre a Europa. Destacaram-se: Veneza. Gênova, Pisa, Amalfi, Frandes e a Grande Hansa Germânica, com suas 90 cidades associadas. (96. BECKER, op. cit., p. 275.)


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Gênova, Pisa e Amalfi passaram a liderar o comércio no Mediterrâneo Ocidental. Veneza e Sicília monopolizavam o comércio com o Oriente. Veneza tornou-se a primeira potência marítima do Mediterrâneo, graças à sua posição estratégica entre o Oriente e o Ocidente. Seus comerciantes tinham diversos pontos de apoio entre o Mar Adriático e o Mar Negro. Gênova era a segunda força marítima do Mediterrâneo. E com a fundação, em 1407, da Casa di San Giorgio primeiro Banco Público da Europa-, demonstrou a sua grande pujança comercial. A Flandres era o terceiro grande centro do comércio europeu na Idade Média. A atividade comercial se desenvolvia entre um leque de cidades espalhadas por todo o seu litoral. As principais eram: Bruges, Grand, Lille e Ypres.

O comércio do norte da Europa era controlado pelos mercadores da Grande Hansa Germânica, que surgiu em 1358. Ao afastar os piratas da região e impor sua vontade ao rei da Dinamarca, a liga conquistou enorme força, recebendo adesão de comerciantes de 90 cidades. A segunda taça foi derramada no mar, e os acontecimentos pertinentes se deram no mar. O Mediterrâneo e o Báltico formavam a grande via do vertiginoso desenvolvimento econômico e comercial das cidades italianas e da região dos Balcãs. Esse desenvolvimento comercial se tornou o assunto da História nos séculos que sucederam a decadência do feudalismo. (ARRUDA, op. cit., p. 406-409.)

A decadência do comércio Mediterrâneo.

A profecia diz que o mar se tornou em sangue como de um morto, e morreram todos os seres viventes que estavam no mar. Ela fala da morte dos seres marinhos? Não! Não é possível que assim seja. Por que trazer juízo sobre esses seres? Como identificado, a primeira taça foi a decadência do feudalismo, a segunda é o mercantilismo. Há, então, a necessidade de procurar dentro do contexto histórico do mercantilismo a morte dos seres viventes. Antes, o significado do sangue de morto não pode ser o mesmo significado de apenas "sangue", como ocorre em outras profecias.

O sangue aparece em sentido de vida na Bíblia: "Quem come a minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna." Também representa a morte súbita por espada e guerras: "Pois a minha espada se embriagou no céu." "A espada do Senhor está cheia de sangue. "A espada está desembainhada, polida para a matança, para consumir, para ser como relâmpago."98 Nessas situações, o sangue representa a vida (força de viver, espírito de vida, condições de existência), pois é o sangue que transporta a vida pelo corpo. O sangue de morto não mais circula, portanto, não há mais vida nesse ser. Dessa analogia, é possível entender porque tornou em sangue de morto. O fato é que o mar não se tornou literalmente em e de morto. Na realidade, foi a "vida comercial" do Mediterrâneo que findou, principalmente nos Balcas e nas cidades de Pisa, Gênova e Veneza, em função do crescente comércio que despontou no Atlântico. Essas regiões, que monopolizavam o comércio de produtos vindos da India, "morreram" comercialmente.

Não mais atracavam em seus portos os navios carregados com as enormes quantidades de especiarias orientais. O Mar Mediterrâneo não era mais a veia mestra do comércio mundial e se tornou em sangue de morto. Por isso que é dito: morreram (faliram) todos os seres viventes (mercadores) que nele estavam. (João 6:54; Levítico 17:11; 1 Coríntios 15:50; Isaías 34:5,6; Ezequiel 21:28.)

O crescimento comercial no Atlântico

Até o tempo das grandes navegações dos séculos XV e XVI, quase todas as importações de especiarias das Índias eram feitas por terra, frente o fato de que o Canal de Suez estava fechado pelos turcos otomanos, o que impedia o comércio dos navios europeus com o Oriente. A rota das importações forçosamente passava pelos países do Mediterrâneo e pelas cidades balcânicas, que monopolizavam o comércio.

Para quebrar o monopólio das cidades do Mediterrâneo, Portugal e Espanha aventuraram-se na busca de novos caminhos às Índias, o que resultou no descobrimento da América, o acontecimento de maior expressão para o mercantilismo.


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O início dessa busca foi a Escola de Sagres, fundada durante o excelente reinado de D. João I por seu filho D. Henrique, o Navegador, que deu origem aos descobrimentos e às conquistas de Portugal. No castelo de Sagres, que se erguia junto ao cabo de São Vicente, à beira do Atlântico, D. Henrique reuniu os mais destacados geógrafos, cosmógrafos, cartógrafos, matemáticos e marinheiros da época. Criou a mais famosa escola náutica, o mais importante observatório astronômico da Europa e oficinas para a construção de navios. Em Sagres, formaram-se os hábeis pilotos portugueses, peritos no manejo da bússola e do astrolábio, instruídos no conhecimento dos portulanos e na prática da navegação. Dessa região saíram as primeiras caravelas, "por mares nunca dantes navegados", rumo à conquista de terras longínquas.

A partir das viagens realizadas por Portugal e pela Espanha, as mercadorias importadas das Índias pararam de circular no Mediterrâneo e passaram a circular no Atlântico. As cidades que margeavam o Mediterrâ- neo "morreram" comercialmente para a Europa, devido à redução do tráfego de navios mercantes. A expansão e o progresso do comércio internacional, em lugar de restringir-se aos seus estreitos limites, fizeram os navios navegarem aos sete mares do mundo inteiro. Com isso, o Mediterrâneo e o Báltico perdem sua antiga importância. Reduz-se a influência das cidades italianas, assim como das cidades da Hansa Germânica. Marselha, Gênova, Veneza e Alexandria tornam-se portos secundários. A abertura do Canal de Suez, séculos mais tarde, devolve-lhes parte da antiga prosperidade. (BECKER,op. cit., p. 331.)

Os Estados Atlânticos passam a ser os mais poderosos. Os primeiros são Portugal e Espanha; logo depois, França e Holanda; e mais tarde, Inglaterra. O comércio marítimo internacional, açambarcado durante a Idade Média pelas cidades italianas e pela Hansa Germânica, passou a ser liderado pelas duas nações da Península Ibérica. Esse comércio marítimo, intensamente modificado pelos grandes descobrimentos de fins do século XV, modificou, por sua vez, profundamente a economia mundial. Ao atingir a América, o comércio expandiu-se de forma notável e tornou-se realmente internacional.

A grande quantidade de produtos que vinha da América e das Índias pelo Atlântico "matou" aquele glorioso crescimento comercial das cidades mediterrâneas. Agora, o polo comercial do mundo estava localizado nas nações atlânticas. Para se ter uma ideia dessa força comercial atlântica, quando Vaz Caminha chegou a Calicute, nas Índias, contornando a Costa da África, numa só viagem ele trouxe em seus navios a mesma quantidade de mercadorias que aquelas cidades mediterrâneas importavam por terra durante um ano. Seu lucro foi o índice exorbitante de 6000%. Não era mais possível Gènova, Pisa, Veneza, Flandres, Alexandria, Marselha, Sicília e a Grande Hansa Germânica, com mais de 90 cidades associadas que monopolizavam o comércio dessa região do Mediterrâneo, competirem com o novo e crescente comércio das nações atlânticas. (Ibid., p. 334,335,358.)

Os navios mercantes não mais navegavam pelo Mediterrâneo, ele estava em segundo plano; tornou-se como sangue de morto, não havia mercadores em seus termos, todos os que possuíam naus se colocaram de longe. Era o derramar de mais uma praga do Apocalipse. O segundo soar da sétima trombeta.

A segunda taça do Apocalipse foi o mercantilismo, que teve como fatores preponderantes as grandes navegações e descobertas dos séculos XV e XVI. Ela foi derramada no mar e se cumpriu gloriosamente, conforme a História mostra. Nessa época, a atenção dos homens estava voltada para tudo o que acontecia no mar. O mercantilismo foi o sistema econômico sob o qual as nações europeias viveram por vários séculos. Nele mais uma página da História da humanidade foi virada. A próxima foi o Absolutismo. O cenário mudou. Os homens melhoraram o padrão de vida. Já não se vê mais tanta miséria e pobreza. Os homens estão ficando ricos. Acumularam ouro e prata. Os reis ostentam poder. Diante dessa fortuna, nada melhor do que entrarmos nos palácios dos monarcas. Vamos entender o que eles fizeram com tanto poder?

"A SEGUNDA TAÇA DO APOCALIPSE FOI O MERCANTILISMO. ESSE FENÔMENO DA HISTÓRIA TEVE COMO CENÁRIO O MAR. OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS QUE CARACTERIZARAM ESSE PERÍODO FORAM A FALÊNCIA DE TODOS OS MERCADORES DO MEDITERR NEO E AS GRANDES NAVEGAÇÕES, QUE PERMITIRAM O DESCOBRIMENTO DA AMÉRICA E QUE TROUXE CONSEQUÊNCIAS IMPORTANTES PARA TODA A HUMANIDADE."


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O ABSOLUTISMO: QUANDO OS HOMENS HONRAVAM OS REIS

O Mercantilismo foi a centralização do poder político. A partir do século XVI, os reis governaram os Estados dotados de maior autoridade, apoiados pelas filosofias da época. Tais filosofias rezavam que os reis eram todos poderosos no governo e não deviam explicações a ninguém. Esse sistema de governo foi chamado de Absolutismo e permaneceu por três séculos na Europa.

O absolutismo é identificado como o poder ilimitado e absoluto do soberano. Sistema de governo em que o poder é isento de qualquer controle. Despotismo, tirania. Período histórico, entre 1485 e 1789, que deixou profundos vestígios em vários Estados da Europa e, particularmente, na França. Formação de monarquias absolutas, que por si só não permitem que o poder seja partilhado e que fogem aos âmbitos legais relativamente aos demais órgãos do Estado.

No sistema feudal, o governo estava descentralizado e era repartido com os senhores feudais. Com a queda do feudalismo, o poder voltou para as mãos dos reis. Logo após as Cruzadas, as nações europeias se encontravam mais fortes e melhor organizadas, além de possuídas por um forte sentimento nacionalista que as impulsionavam a agir em defesa de suas fronteiras, principalmente devido às constantes ameaças dos tur- cos. Em função do mercantilismo, cresceu o poder econômico (101. ENCICLOPÉDIA Universal, v. 1, p. 46.) da classe burguesa, que patrocinou os reis nas longas viagens marítimas. Isso provocou um enorme aumento na arrecadação do governo com a cobrança de impostos e taxas alfandegárias.

Os reis se tornaram mais fortes política e economicamente e passaram a defender despoticamente os interesses comerciais da burguesia. Aos poucos, a Europa, do sistema feudal fraco e inexpressivo, recebe uma nova configuração político-econômica, acompanhada dos nacionalismos que agrupam as culturas e as etnias, que forma o Estado Nacional mais forte e mais expressivo. O absolutismo dominou toda a Europa, com raras exceções, como as democráticas Suíça e Holanda. Os reis governavam por direito divino e os súditos deviam-lhe obediência cega. Na defesa de interesses públicos, os governos achavam-se livres de toda e qualquer regra moral.

Essa mentalidade predominou principalmente na Espanha e na França. A Espanha, sob os governos do Rei Carlos V e seu filho Filipe II, foi o berço do absolutismo, que durou da segunda metade do século XV até o final do século XVIII. Um novo sistema de vida, representado pela terceira taça do Apocalipse. O terceiro soar da sétima trombeta.

A filosofia absolutista, o poder despótico dos reis.
(102. BECKER, op. cit., p. 363,365,366.)

O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas e se tornaram em sangue. E ouvi o anjo das águas dizer: Justo és tu és e que eras, o Santo; porque julgaste estas coisas porque derramaram o sangue de santos e de profetas, e tu lhes tem dado sangue a beber, eles merecem. E ouvi outro do altar, que dizia: Na verdade, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.Apocalipse 16:3-7

Essa profecia se refere ao absolutismo, um período sanguinário da raça humana, quando os homens viviam em função de prestar fidelidade aos reis. Essa taça foi derramada nos rios e nas fontes das águas.

Na profecia, os rios significam reinos ou nações, A taça derramada nos rios significa que o palco dos acontecimentos eram as nações. A taça também foi derramada nas fontes das águas, na origem dos rios. Na linguagem literal, isso quer dizer que os acontecimentos se deram nos fundamentos da nação, ou seja, suas instituições: estado, governo, exércitos, impostos, etc. Especificamente, o derramar dessa taça nas fontes das águas foi a introdução de uma ideologia política na mente dos reis e na mente das pessoas que formavam as diversas culturas e etnias, e concedeu-lhes o sentimento de nacionalidade.

Essa ideologia tornou os reis mais poderosos e favoreceu a formação do Estado Nacional. Essa ideologia foi o absolutismo, que surgiu no século XVI. Com o fortalecimento das nações e de seus monarcas, somado às relações matrimoniais entre as cortes, muitos reis herdaram grandes domínios territoriais.

Portanto eis que o Senhor fará subir sobre eles as águas do rio, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; e subirá sobre todos os seus leitos, e transbordará por todas as suas ribanceiras. Isaias 8:7


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Entre eles, destaca-se Carlos V, da Espanha, que sob o seu controle estava o mais vasto território já dominado por apenas um homem. O seu reino foi o mais esplendoroso da Europa, pois quatro grandes linhagens fundiram-se em Carlos V; isso deu origem a um vasto império, que incluía boa parte da Europa e quase toda a América. Esse colossal Império de Carlos V ultrapassava, agora, em extensão, o Santo Império Romano Germânico. "O sol, diziam seus cortesãos, não se punha jamais nos domínios do rei da Espanha".

Carlos V, que aos 30 anos havia se casado com Isabel, de Portugal, o que lhe dava também direitos sobre o povo luso, era o monarca mais poderoso da Europa. Tinha vencido a França, e os reformadores alemães estavam dispostos a um acordo. Ele foi muitíssimo influenciado pelo absolutismo e governou com grande rigor, tornando a Espanha uma das nações mais absolutistas da Europa. Carlos V pretendia eliminar qualquer empecilho que pudesse atrapalhar o avante comercial da burguesia. Para tal, não poupou esforços. Na Espanha e na França, cujas atrocidades deixaram a História manchada de sangue, têm-se os detalhes mais explícitos sobre os acontecimentos que caracterizam a terceira taça do Apocalipse. Todavia, não somente a Espanha e a França foram influenciadas por essa filosofia, outras nações europeias também tinham o absolutismo como sistema de governo, entre elas: Inglaterra, Rússia, Prússia, Áustria, Suécia, Dinamarca, etc. (104. BECKER, op. cit., p. 369.)

O acontecimento dessa taça do Apocalipse abrangia os rios e as fontes das águas de toda a Europa. Os reinos e seus governos eram envolvidos pelo absolutismo. Com o despotismo com que os reis governaram, as nações se tornaram em sangue.

As ideologias absolutistas

Nessa época, a opinião geral era a de que os reis estavam investidos de supremo poder para governar. Toda autoridade estava na mão do soberano, e o povo devia total obediência, sem direito a qualquer tipo de rebelião que viesse afetar o curso normal da sociedade e atrapalhar as atividades comerciais da burguesia. Essa ideologia apoiava-se nas interpretações de legistas medievais, como Maquiavel, Bodin, Hobbes e Grotius. Assim, a realeza firmou-se dentro do regime absolutista.

O francês Jean Bodin reconhecia o valor da lei divina (direito natural), que deveria ser acatada pelo rei, mas negava aos súditos o direito de rebelião. Segundo ele, a autoridade do rei era divina, e o povo tinha a obrigação suprema de obedecer. A revolução devia ser evitada a todo custo, pois ela destruía a estabilidade, que era condição necessária do progresso social. Bodin definia a doutrina da soberania como "o poder supremo sobre cidadãos e súditos, sem restrições determinadas pelas leis". Isto é, o príncipe único soberano-não estava sujeito às leis feitas pelos homens.

Segundo ele, não havia nenhuma restrição legal à sua autoridade, a não ser uma vaga limitação moral: a observação do direito natural (a lei divina). Já o inglês Thomas Hobbes não reconhecia nenhuma lei divina, ou natural, acima da autoridade real. O governo absoluto, afirmava Hobbes, foi fundado pelo próprio príncipe e, portanto, não havia motivos de queixa quando o governante se tornava um tirano. Hobbes concluiu que o rei podia governar despoticamente, não por ter sido ungido por Deus, mas porque o povo lhe outorgou plenos e absolutos poderes. Grotius, outro legista absolutista, dizia que tendo estabelecido um governo, o povo era obrigado a obedecê-lo cegamente até o fim.

O sentido geral das teorias absolutistas era que o mercantilismo e o despotismo político associavam-se prazerosamente às teorias absolutistas. Homens de prestígio e de posses defendiam a concepção de um soberano autocrático, o poder centralizado em um déspota. Achavam eles que a ordem e a disciplina - social, política e econômica eram mais necessárias e importantes do que a própria liberdade. E só um governo forte, autoritário, poderia garantir essa ordem e proteger-lhes as atividades comerciais, 106 Nessa filosofia, o rei era todo-poderoso de "direito divino"; só tinha de prestar contas a Deus e a mais ninguém. Fazia e desfazia as leis. Declarava a guerra, consertava a paz. Dispunha a seu bel-prazer das rendas do Estado, dos bens e da liberdade dos seus súditos. (105. Ibid., p. 366,367./ 106. Ibid., p. 367.)

Qualquer pessoa podia ser presa e, sem processo nem julgamento, encerrada numa prisão do Estado (como, por exemplo, a Bastilha de Paris). Existia a censura prévia. Não havia liberdade religiosa. Essas teorias absolutistas ficaram encarceradas na mente da realeza e da burguesia, que desejavam a todo custo boas condições para o comércio.


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O Santo Ofício

A profecia diz que o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e elas se tornaram em sangue. Realmente, muito sangue foi derramado pelas mãos dos reis europeus. Nos séculos XII e XIII, reis e seus sú- ditos, influenciados pela religião estatal, perseguiram e mataram aqueles que para eles eram os hereges, mas, na verdade, eram os verdadeiros cristãos, que viviam escondidos da civilização nas cavernas, nos alpes e nos vales da Terra. Essa matança de cristãos (isto é, de pessoas que não concordavam com a religião oficial) foi fruto da "Santa Inquisição", que "desde o século XIII havia se tornado a máquina mais formidável de tirania religiosa que o mundo jamais vira, cujos procedimentos eram em segredo, e advogados não eram permitidos, nem testemunhas chamadas".

Essa máquina de matar homens, que na Espanha teve o nome vertido para Santo Ofício, alcançou o auge da sua fama, ou infâmia, no século XVI. (107. Ibid., p. 423./ 108. KNIGHT, op. cit., p. 171.) Porém, dessa vez, ela foi empregada na sua forma mais auspiciosa contra a sociedade religiosa protestante do Santo Império. Com essa arma em mãos e invocando as teorias absolutistas, os reis estavam prontos para agir sobre os povos que haviam matado os santos e os profetas. Muitos foram os reis absolutistas, mas o grupo principal era formado pela Rainha Isabel, da Inglaterra, pelo Rei Carlos XI, da França, e pelo destacado Rei Filipe II, da Espanha. No reinado deles aconteceram as maiores atrocidades humanas que a História conseguiu narrar.

O massacre dos hereges

Com o derramar da terceira taça nos rios e nas fontes das águas, elas se tornaram em sangue. Nessa profecia, como visto anteriormente, o sentido da palavra sangue significa morte súbita. Foi o que aconteceu no tempo do regime absolutista. Qualquer um que colocasse empecilho ao desenvolvimento comercial e econômico da burguesia e dos reis absolutos era alvo de terríveis massacres. Os reis absolutistas não tinham escrúpulos. Outorgados de poder, eles executavam hereges, protestantes, católicos, mouros, vilas e cidades inteiras.

O ápice dessas ações absolutas deu-se no reinado de Filipe II, da Espanha, que possuía um exército numeroso, aguerrido e bem equipado; seus generais eram os mais famosos; sua frota, a mais poderosa do mundo. (109. Isaías 63:1-6; 34:5,6; 66:16; Jeremias 25:31:50:35-37: Ezequiel 21:28.)

Filipe II foi um monarca autocrático. Não admitiu limitação alguma a seus poderes: Dominou a Igreja e a nobreza, anulou os foros e outros privilégios tradicionais dos reinos espanhóis; também convocou o menos possível as cortes. Essa política absolutista de Filipe II provocou resistências, como os motins de Aragão, que foram violentamente reprimidos. Rei autoritário, inflexível, altaneiro, Filipe II subjugou com mão férrea toda a Península Ibérica. Tentou submeter, a ferro e fogo, todos os súditos do seu vasto império. E pretendeu impor respeito ao mundo inteiro. As ações de Filipe II estavam voltadas aos protestantes. Ele, com a finalidade de descobrir e eliminar hereges, junto com os sacerdotes do Santo Ofício, iniciou uma cruel e tenaz perseguição aos "reformados".

No primeiro auto de fé, em Valladolid, foram queimadas vivas 14 pessoas. Em Sevilha, foram queimadas, num dia, 800 pessoas. Dez anos mais tarde, após ferozes repressões, Filipe II vangloriava-se de não ter ficado na Espanha nem um único protestante sequer. As medidas rigorosas de Filipe II e a ação implacável do Santo Ofício deram origem, nos Países Baixos, a revoltas populares. Filipe II envia as tropas espanholas sob o comando do duque d'Alba. Esse implanta uma politica terrorista, um "Tribunal de sangue", procura hereges; confisca os bens de 30.000 pessoas e condena à morte mais de 10.000. Nos Países Baixos, combateu a reforma e as rebeliões nacionais. Ao norte dos Países Baixos, predominantemente protestante, houve resistência, e conforme mostra a História, a luta foi longa e cruenta; em Haarlem, por exemplo, toda a população foi exterminada ("degolada", diz Malet)."

Houve também severas medidas restritivas contra os mouriscos, descendentes dos antigos mouros, mas já convertidos ao catolicismo. Isso levou a uma violenta rebelião (de "las Alpujarras") e a três anos de luta. Os mouriscos foram impiedosamente esmagados; os poucos sobreviventes foram deportados a outras regiões espanholas. Em 1609 (após o reinado de Filipe II), eles foram, de forma cruel, definitivamente expulsos do país. (110. BECKER, op. cit., p. 373,376.) Isabel, da Inglaterra, (Anglicana) também usou desse artifício filosófico para impor suas "severas medidas contra os católicos do seu reino", inclusive mandou decapitar a sua prima, a católica Maria Stuart, rainha da Escócia. 113 O mesmo fez Carlos XI, da [...]


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[...] França, num dos episódios mais cruéis da História, sem dúvida, um dos maiores massacres religiosos quando se fala em despotismo religioso, a famosa noite de São Bartolomeu. O sino deu sinal, todos os campanários de Paris responderam imediatamente, e a carnificina começou. Em todas as ruas ouvia-se agora o fogo dos mosqueteiros. Os huguenotes, atacados de surpresa, não podiam oferecer resistência, e quando rompeu a manhã, podiam-se ver os cadáveres aos montes por toda a parte. O sangue enchia as ruas, e o Rio Sena corria avermelhado. (111. Ibid., p. 373-375./ 112. Ibid., p. 375./113. Ibid., p. 374.)

A manhã não fez cessar aquela medonha obra, cena de carnificina. Isso durou quatro dias, e ao fim deles, os assassinos pararam por puro cansaço, tendo sido assassinados uns 500 protestantes nobres, e uns cinco a dez mil huguenotes. Mas a mortandade não acabou aqui. Estendeu-se pelas províncias, sendo dadas ordens a vários governadores magistrados para que exterminassem os hereges sem piedade. Disse um bispo católico: A quem mandam assassinar pertence ao meu rebanho. Eu não vejo no Evangelho que o pastor possa permitir que o sangue das suas ovelhas seja derramado. A carnificina nas províncias continuou por seis semanas, e o número de vítimas é diversamente calculado em 50, 70 e 100 mil. O sangue dos inocentes que foi derramado nos séculos anteriores era, agora, vingado. Os povos haviam derramado sangue de santos e de profetas, o Senhor dava-lhes sangue a beber, pois eles o mereciam. Verdadeiros e justos eram os juízos de Deus. Com o mesmo juízo com que julgaram foram julgados, mataram à espada e à espada foram mortos.

Da segunda metade do século XV até a segunda metade do século XVIII, a História europeia foi marcada por sanguinários acontecimentos que caracterizaram uma época chamada de absolutista. Nesse período, os reis da Terra agiram em defesa dos objetivos comerciais da classe burguesa. Era um "protecionismo militar" do avante comércio. Esse período caracterizou os acontecimentos da terceira taça dos juízos de Deus. Nessa época, a atenção dos homens estava voltada para seus reis, para a formação do Estado-nação e para todas as consequências sanguinárias da filosofia absolutista. A palavra de ordem era "temer a Deus e honrar o rei". Foi a taça do Apocalipse derramada nos rios e nas fontes das águas. O terceiro soar da sétima trombeta.

Nosso olhar corre pelos séculos. Estamos avançando pela história com o prisma da profecia bíblica. Imagens flutuam em nossa mente na tentativa de construir as cenas do passado. Vimos tantas barbáries, mas o bom senso vai tomar conta. Escolas, bibliotecas e universidades se transformam no lugar do homem racional. Ele quer ser inteligente. Vamos para o século XVIII, o século da razão.

"A TERCEIRA TAÇA DO APOCALIPSE FOI O ABSOLUTISMO. UMA FILOSOFIA DERRAMADA NA MENTE DOS POVOS DE QUE O REI ERA O TODO-PODEROSO E DEVIA SER HONRADO A QUALQUER CUSTO. ATRAVÉS DA AÇÃO SANGUINÁRIA DOS REIS DÉSPOTAS, A REBELDIA DOS HOMENS FOI JULGADA. HAVIAM DERRAMADO SANGUE INOCENTE, AGORA BEBIAM DO PRÓPRIO SANGUE."

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